25 de out. de 2010

Espionagem israelense nas comunicações

01 de Setembro de 2010
RELAÇÕES PERIGOSAS

Por muito tempo desconhecida, a base de Urim, a instalação de espionagem mais importante de Israel, foi descoberta recentemente. Por lá são interceptadas, secretamente, chamadas telefônicas, correio eletrônico e outros tipos de comunicação do Oriente Médio, Europa, África e Ásia
por Nicky Hager
A cerca de 30 km da prisão de Beer-Sheva – onde os participantes da chamada “flotilha da liberdade” de ajuda humanitária ficaram detidos após o sangrento ataque de 31 de maio deste ano –, na direção da faixa de Gaza, está localizada a mais importante instalação de espionagem de Israel. Essa base, até agora desconhecida, é composta de linhas de antenas de satélites que interceptam secretamente chamadas telefônicas, e-mails e outros tipos de comunicação de todo o Oriente Médio, Europa, África e Ásia.

O poderio do Estado israelense na região é, com frequência, associado às suas Forças Armadas, seu arsenal nuclear e serviços de ação clandestina (o Mossad). Mas sua capacidade de coleta eletrônica de informações tem a mesma, ou até mais, importância. Quer se trate de vigiar governos, organizações internacionais e políticas, empresas estrangeiras ou indivíduos, a maior parte dessa ação acontece nessa instalação, localizada nas proximidades do deserto do Neguev.

A base fica situada a cerca de 2 km ao norte do kibutz de Urim. Nossas fontes trabalharam nos meios de informação israelenses e conheceram essa estrutura em primeiríssima mão. Eles descrevem linhas de antenas de satélites de tamanhos variados de um e outro lado da estrada 2333, que leva à base. Grades altas, barreiras e cães protegem o espaço. Como qualquer um pode verificar na internet, as imagens de satélite desse local são nítidas. Um olhar mais atento distingue ali, sem dificuldade, todos os elementos característicos de um posto de vigilância eletrônica. Um grande círculo no campo indica a localização de uma antena de pesquisa de direção (HF/DF), destinada à observação marítima.
 
Vigilância

A base de Urim foi montada há várias décadas com a finalidade de vigiar a comunicação internacional que transitava pela rede de satélites Intelsat, usada entre diversos países. Sua atividade se estendia, em princípio, às ligações marítimas (Inmarsat), mas rapidamente cresceu, mirando satélites regionais, cada vez mais numerosos. Como confirma o especialista em informação, Duncan Campbell, essa base é “similar às estações terrestres de interceptação por satélite do pacto Echelon”. Echelon é a rede mundial de estações de observação e vigilância que integram Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, em funcionamento desde 1996.1
 
Os telefones por satélite usados nos navios que se dirigiam a Gaza eram alvos fáceis para esses equipamentos de alta tecnologia. Nossas fontes israelenses nos descrevem como os computadores são “programados para distinguir palavras e números de telefone considerados interessantes” dentre chamadas, correio eletrônico e dados captados. As mensagens interceptadas são transferidas para a sede da Unidade 8200 – a central de informações israelense –, que fica na cidade de Herzliya, ao norte de Tel Aviv. Ali, elas são traduzidas e transmitidas às demais agências, entre as quais o exército de Israel e o Mossad.
 
A exemplo de seus equivalentes britânico (Government Communications Headquarters, GCHQ) e americano (National Security Agency, NSA), a Unidade 8200 é bem menos famosa que a agência de informação exterior e a de operações especiais do país – respectivamente, MI6, CIA e Mossad. No entanto, as primeiras são mais importantes em termos de efetivo e orçamento.
 
A base de Urim mira inúmeras nações, tanto amigas quanto inimigas. Uma ex-analista, que na época de seu serviço militar foi designada para atuar na central da Unidade 8200, confirma que a base trabalhava em regime integral de funcionamento, traduzindo para o hebraico as ligações e e-mails em inglês e francês. Uma tarefa “interessante” que, segundo ela, consistia em decifrar as inúmeras correspondências de rotina para nelas encontrar detalhes possivelmente interessantes. Sua seção escutava, sobretudo, “as comunicações diplomáticas e outros sinais offshore”. Ela também passava muito tempo explorando sites públicos na internet.2
 
Para completar esse quadro, a base de Urim trata as escutas colocadas em cabos submarinos (em especial os cabos mediterrâneos que ligam Israel à Europa, passando pela Sicília) e dispõe de estações clandestinas nos prédios das representações de Israel no exterior, como é o caso de suas embaixadas. A Unidade 8200, que depende oficialmente do exército, detém redes secretas nos territórios palestinos e mantém sempre no ar aviões Gulfstream carregados de equipamentos eletrônicos.
 
Se excluirmos os satélites de televisão – objetivos improváveis de uma estação de observação e vigilância –, a maioria dos emissores situados num raio que vai do Atlântico ao Índico são alvos potenciais: além da Intelsat e da Inmarsat, existem os russos, árabes, europeus e asiáticos. As imagens da base indicam a existência de cerca de 30 antenas de vigilância e observação, transformando Urim numa das maiores estações de espionagem do planeta. A única estação comparável em tamanho é a estrutura americana instalada em Menwith Hill, na região de Yorkshire (Inglaterra).
 
Outras estações de escuta são conhecidas desde os anos 1980. Nos arredores da cidade alemã de Bad Aibling, existe uma grande base da NSA. Outra estação americana fica na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico, ao lado de uma pista de aterrissagem onde se perfilam bombardeiros B-52.
Quanto à principal base britânica, suas 20 antenas podem ser vistas no alto das falésias da Cornualha, em Morwenstow. A Direção Geral de Segurança Externa (DGSE) francesa também não fica atrás, com a “Frenchelon”, uma rede que inclui várias bases no Hexágono (o território francês) e nos territórios de ultramar.
 
A estação israelense de Urim conseguiu permanecer escondida do público durante várias décadas.

A VERDADEIRA GEOGRAFIA

Blog do Prof. Jutahy.

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